Na paisagem do rio
difícil é saber
onde começa o rio;
onde a lama
começa do rio;
onde a terra
começa da lama;
onde o homem,
onde a pele
começa da lama;
onde começa o homem
naquele homem.
– João Cabral de Melo Neto
Em seu monumental poema O Cão Sem Plumas, publicado em 1950, João Cabral de Melo Neto se debruça sobre o rio Capibaribe, sua importância para a paisagem, o povo e a identidade de Pernambuco. Abarcando todas as regiões por onde o curso de água passa, da nascente ao litoral, o texto enfatiza, ainda na metade do século 20, o descaso com a natureza e as pessoas – e os efeitos brutais dessa postura. Em sua 17ª edição, o Curta Taquary continua com os olhos voltados para a preservação ambiental, e homenageia o Capibaribe, buscando reforçar os laços das comunidades com o rio e lutar contra a sua degradação.
Mais uma vez, o festival aconteceu nas cidades de Taquaritinga do Norte e Toritama, de 16 a 22 de março, datas escolhidas por representarem, respectivamente, o Dia Nacional de Conscientização sobre as Mudanças Climáticas e o Dia Mundial da Água. O cuidado com a natureza, tendo a arte e a educação como vetores de transformação, é uma preocupação de longa data do Curta Taquary, projeto fundado em 2005. A iniciativa entende o grande potencial do audiovisual para preservar identidades, divulgar inquietações, denunciar absurdos, fabular possibilidades de transformação e, por isso, sua curadoria integra eixos que contemplam diferentes formas de pensamento e estética.
Em 2024, foram exibidos 67 curtas-metragens, 32 deles dirigidos por mulheres, provenientes de 16 estados brasileiros e da Argentina, Espanha, do México, Peru e dos Estados Unidos. Os filmes foram escolhidos entre 650 obras inscritas e estão divididos em onze mostras competitivas que celebram a diversidade da produção contemporânea, com eixos temáticos que vão desde a valorização da produção de Pernambuco e seu Agreste, passando ainda pelos trabalhos de estudantes, obras com foco em diversidade sexual e de gênero, entre outras.
As mostras competitivas foram;: Brasil, Internacional, Primeiros Passos; Dália da Serra, Universitária; Diversidade, Curtas Fantásticos; Criancine; Pernambucana; Agreste e Por Um Mundo Melhor. Houveram ainda duas mostras não competitivas: a LPG Taquaritinga do Norte, com documentários feitos através de recursos da Lei Paulo Gustavo, sobre a vida de artistas e da cultura popular da cidade, e a Toritama, com filmes produzidos na cidade por uma nova geração de realizadores.
Além da exibição dos filmes, o Curta Taquary reforçou seu compromisso com o meio ambiente e plantou 2.000 mudas nativas para o reflorestamento das margens do rio Capibaribe e do bioma do Agreste, com ações nas cidades de Taquaritinga do Norte, Toritama, Poção, Jataúba, Santa Cruz do Capibaribe e Brejo da Madre de Deus. A ação é uma parceria com a Compesa, que doou as plantas. O festival promoveu ainda uma “chuva de sementes”, com o lançamento feito por voadores de parapente sobre áreas que sofreram com as ações humanas, a fim de restaurar a vegetação.
E não parou por aí: o Curta Taquary esteve nas ruas, nas escolas e em espaços ligados à arte, aproximando-se de várias gerações e fortalecendo os vínculos da comunidade com a cultura. Entre as novidades deste ano, tivemos a parceria com o Kurta na Kombi, projeto do Rio Grande do Norte, voltado para a circulação e exibição de filmes, o cineclubismo e a formação de público. O festival também promoveu ações educativas, como oficinas e o 7º Encontro de Cinema e Educação.
O 17º Curta Taquary é uma realização das produtoras Taquary Filmes e Tá Bonito Pra Chover Produções e conta com o incentivo do Funcultura – Edital do Programa de Fomento à Produção Audiovisual de Pernambuco e o apoio da Compesa.
Agradecemos imensamente a todes, e que as sementes plantadas aqui, literais e afetivas, possam germinar na natureza e dentro de cada um!
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